APONTAMENTOS
SOBRE A DESENCARNAÇÃO
Abel
Silva
"Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte." I cor.
15:26
A desencarnação, a muito,
vem sendo objeto de grande preocupação. Cada indivíduo procura, a seu modo,
compreender esse processo, que é natural, mas ao mesmo tempo é causa de grande perturbação.
Perguntas surgem a todo tempo e de várias formas. Como é? O que acontece? É
processo doloroso?
Também preocupado com esse
assunto, propus estudar o tema à luz de nossa Doutrina. Esse estudo, para
efeito didático, é composto de três partes. Na primeira parte, procuro
informações sobre o preparo para a desencarnação; na segunda, é o momento do
desencarne, como ele acontece e na terceira parte busco relatos das primeiras horas de desencarne, antes da
grande travessia. Todas as informações aqui expostas são compilações de livros
de credibilidade incontestável. O primeiro que citamos, como não podia deixar
de ser, é “O livro dos Espíritos”, primeiro da codificação. Nesse livro, Kardec dedicou todo o capítulo III a esse tema. Como
o foco desse estudo é o momento do desencarne, por morte natural, abordaremos somente
as perguntas concernentes ao objeto desse estudo. Vejamos como ele trata o
assunto.
Na pergunta 154, Kardec
pergunta aos espíritos se é dolorosa a separação da alma e do corpo e eles, os
espíritos, respondem que não e afirmam que o corpo sofre mais durante a vida do
que no momento da morte. Relatam, ainda, que em morte natural, que sobrevém
pelo esgotamento dos órgãos, o homem deixa a vida sem perceber: é uma lâmpada
que se apaga por falta de óleo. Já na pergunta 155, que diz respeito à
separação e do corpo físico, a espiritualidade diz que a alma se desprende
gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se restitui e a liberdade.
Com relação à questão 156, Kardec aborda à espiritualidade se a separação definitiva
da alma e do corpo pode ocorrer antes da cessação completa da vida orgânica, a
que os espíritos respondem que na “agonia, a alma, algumas vezes, já tem
deixado o corpo; nada mais havendo do que vida orgânica”. A pergunta 157
questiona se no momento da morte, a alma sente, alguma vez, qualquer aspiração
ou êxtase que lhe faça entrever o mundo onde vai de novo entrar. Em resposta,
os espíritos informam que quando desprendida da matéria, a alma vê o futuro
desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de espírito. A
questão 159 trata da sensação que experimenta a alma no momento em que
reconhece estar no mundo dos espíritos. Para esse assunto, somos informados que
depende muito de cada espírito. Se este praticou o mal, impelido do desejo de
praticá-lo, no primeiro momento se sentirá envergonhado de o haver praticado.
Com o justo, as coisas se passam de modo bem diferente. Ela se sente como que
aliviada de grande peso, pois que não teme nenhum olhar perscrutador.
Após essa breve explicação,
tomemos o subtema “Metamorfose do inseto”, pertencente ao capítulo XI –
“Existência da alma”, do livro “Evolução em dois mundos”, do espírito André Luiz, psicografia de Chico Xavier e Waldo Vieira. Nesse subtema,
André Luiz disserta sobre o processo de transformação do inseto. Atentemos para
essas informações.
“[...] a larva dos insetos de transformação
completa experimenta vários períodos de renovação para atingir a condição de
adulto, embora permaneça com o mesmo aspecto, porquanto apenas depois
da derradeira mudança de pele é que se torna pupa. Em semelhante estágio, acusa
progressiva diminuição de atividade, até que não mais suporte a alimentação.
Esvaziamselhe os intestinos e paralisamseIhe os movimentos. A larva
protegese, então, no solo ou na planta, preparando a própria liberação. Permanece,
assim, imóvel, e não se alimenta do ponto de vista fisiológico,
encrisalidandose, segundo a espécie, em fios de seda por ela própria
constituídos com a secreção das glândulas salivares, agregados a pequeninos
tratos de terra ou a tecidos vegetais, formando, desse modo, o casulo em
que repousa, durante certo tempo, fixado em alguns dias e até meses. Na
posição de pupa, ao impacto das vibrações de sua própria
organização psicossomática, sofre essencial modificação em
seu organismo, modificação que, no fundo, equivale a verdadeiro
aniquilamento ou histólise, ao mesmo tempo que elabora órgãos novos pelo
fenômeno da histogênese, valendose dos tecidos que perduraram. A histólise1, que se efetua por ação dos
fermentos, verificase notadamente nos músculos, no aparelho digestivo e nos tubos de Malpighi2,
com reduzida atuação no sistema nervoso e circulatório. Pela histogênese3, os remanescentes dos músculos
estriados desfazemse das características que lhes são próprias, perdendo,
gradativamente, a sua estriação, até que se convertam, qual se obedecessem a
processo involutivo, em células embrionárias fusiformes, com um núcleo
exclusivo, ou mioblastos4, que
se dividem por segmentação, plasmando novos elementos estriados para a
configuração dos órgãos típicos. Somente então, quando as ocorrências da
metamorfose se realizam, é que o inseto, integralmente renovado, abandona
o casulo, revelandose por falena5
leve e ágil, com o sistema bucal transformado, como acontece na borboleta de
tipo sugador, na qual as maxilas se alongam, convertendose numa trompa, enquanto que o
lábio superior e as mandíbulas se atrofiam. Entretanto, embora
magnificentemente modificada, a borboleta alada e multicor é o mesmo indivíduo,
somando em si as experiências dos três aspectos fundamentais de sua existência
de larva6ninfa7inseto
adulto.”
1
– Histólise: Destruição ou dissolução dos tecidos orgânicos.
2
– Tubos de Malpighi: Órgão de excreção do inseto, o qual consiste em longos e
tortuosos condutos que desembocam no tubo digestivo, no limite entre o
intestino médio e o posterior.
3
– histogênese: Formação e desenvolvimento dos tecidos orgânicos.
4
– Mioblasto: Célula do folheto germinativo médio do embrião, que se converte em
fibra muscular.
5
– falena: Nome comum a um grupo de borboletas
noturnas.
6
– Larva: O primeiro estágio por que passam certas espécies animais antes de
atingirem a fase adulta; lagarta, nos insetos.
7
Ninfa:Forma intermediária entre a larva e o inseto adulto.
Agora
veja como André Luiz, no mesmo capítulo XI , subcapítulo “Histogênese
Espiritual”, compara a metamorfose do inseto com a desencarnação da criatura
humana.
“[...] Assim também, a criatura humana,
depois do período infantil, atravessa expressivas etapas de
renovação interior, até alcançar a madureza corpórea, não obstante
apresentarse com a mesma forma exterior, porquanto somente após
o esgotamento da força vital no curso da vida, através da senectude
ou da caquexia por intervenção da enfermidade, é que se habilita à
transformação mais profunda. Nesse período característico da caducidade celular
ou da moléstia irreversível, demonstra gradativa diminuição de atividade,
não mais tolerando a alimentação. Pouco a pouco, declinam as suas atividades
fisiológicas e a inércia substituilhe os movimentos. Protegese, desde então,
no repouso horizontal em decúbito, quase sempre no leito, preparando o trabalho
liberatório. Chega, assim, o momento em que se imobiliza na cadaverização,
mumificandose à feição da crisálida, mas envolvendose no imo do ser com os
fios dos próprios pensamentos, conservandose nesse casulo de forças mentais,
tecido com as suas próprias ideias reflexas dominantes ou secreções
de sua própria mente, durante um período que pode variar entre minutos,
horas, dias, meses ou decênios. No ciclo de cadaverização da forma
somática, sob o governo dinâmico de seu corpo espiritual, padece extremas
alterações que, na essência, correspondem à histólise das células físicas, ao
mesmo tempo que elabora órgãos novos pelo fenômeno que podemos nomear,
por falta de termo equivalente, como sendo histogênese espiritual,
aproveitando os elementos vivos, desagregados do
tecido citoplasmático, e que se mantinham, até então, ligados à colmeia
fisiológica entregue ao desequilíbrio ou à decomposição. A histólise
ou processo destrutivo na desencarnação resulta da ação dos catalisadores
químicos e de outros recursos do mundo orgânico que, alentados em níveis de
degenerescência, operam a mortificação dos tecidos e, do ponto de vista
do corpo espiritual, afetam principalmente a morfologia dos músculos e os
aparelhos da nutrição, com escassa influência sobre os sistemas nervoso e
circulatório. Pela histogênese espiritual, os tecidos citoplasmáticos se desvencilham
em definitivo de alguns dos característicos que lhes são próprios,
voltando temporariamente, qual se atendessem a processo involutivo, à
condição de células embrionárias multiformes que se dividem, através da
cariocinese, plasmando, em novas condições, a forma do corpo espiritual,
segundo o tipo imposto pela mente.”
Após esses relatos
científicos de André Luiz, vejamos como isso funciona na prática, se assim
podemos dizer. Para isso, buscamos informações preciosas em dois livros que
relatam o momento da desencarnação. Um é “Voltei”, pelo espírito Irmão Jacob e
o outro é “Obreiros da vida eterna”, pelo espírito André Luiz, todos
psicografados por Chico Xavier. No caso
do livro Voltei, O Irmão Jacob conta sua própria desencarnação, enquanto que em
“Obreiros da vida eterna”, André Luiz retrata o momento do desencarne de Dimas.
Comecemos pelo capítulo “No
grande desprendimento”, do livro Voltei, em que Irmão Jacob faz o seguinte
relato.
[...]
Nas últimas trinta horas, reconheci-me em posição mais estranha. Tive a ideia
de que dois corações me batiam no peito. Um deles, o de carne em ritmo
descompassado, quase a parar, como relógio sob indefinível perturbação, e o
outro pulsava, mais equilibrado, mas profundo...
A
visão comum alterava-se. Em determinados instantes, a luz invadia-me em clarões
subitâneos, mas, por minutos de prolongada duração, cercava-me densa neblina.
O conforto da câmara de oxigênio não me
subtraía as sensações de estranheza.
Observei que frio intenso veio ferir-me as
extremidades. Não seria a integral extinção da vida corpórea?
Procurei
acalmar-me, orar intimamente e esperar. Após sincera rogativa a Jesus para que
me não desamparasse, comecei a divisar à esquerda a formação de um depósito de
substância prateada, semelhante a gaze tenuíssima...
Não
poderia dizer se era dia ou se era noite em torno de mim, tal o nevoeiro em que
me sentia mergulhado, quando notei que duas mãos caridosas me submetiam a
passes de grande corrente. À medida que se desdobravam, de alto a baixo,
detendo-se com particularidade no tórax, diminuíam-se-me as impressões de
angústia. Lembrei, com força, o Irmão Andrade, atribuindo-lhe o benefício, e
implorei-lhe mentalmente se fizesse ouvir, ajudando-me.
Qual
se estivesse sofrendo melindrosa intervenção cirúrgica, sob máscara pesada;
ouvi alguém me confortar: “Não se mexa! Silêncio! Silêncio!...”.
Conclui
que o término da resistência orgânica era questão de minutos. Não se estendeu o alívio, por muito tempo.
Passei a registrar sensações de esmagamento no
peito.
As mãos do passista espiritual
concentravam-se-me agora no cérebro.
Demoraram-se,
quase duas horas, sob os contornos da cabeça. Suave sensação de bem-estar
voltou a dominar-me, quando experimentei abalo indescritível na parte posterior
do crânio. Não era uma pancada. Semelhava-se a um choque elétrico, de vastas
proporções, no íntimo da substância cerebral. Aquelas mãos amorosas, por certo,
haviam desfeito algum laço forte que me retinha ao corpo de carne...
Senti-me, no mesmo instante, subjugado por
energias devastadoras.
A que comparar o fenômeno?
A imagem mais aproximada é a de uma represa,
cujas comportas fossem arrancadas repentinamente.
Vi-me
diante de tudo o que eu havia sonhado, arquitetado e realizado na vida.
Insignificantes
ideias que emitira, tanto quanto meus atos mínimos, desfilavam, absolutamente
precisos, ante meus olhos fixos, como se me fossem revelados de roldão, por estranho
poder, numa câmara ultra rápida instalada centro de mim.
Transformara-se-me o pensamento num
filme cinematográfico misterioso e inopinadamente desenrolado, a desdobrar-se,
com espantosa elasticidade, para seu criador assombrado, que era eu mesmo [...]
Paremos um pouco aqui, e
juntos, vejamos o que André Luiz fala sobre esse momento em que os atos de
nossas vidas passam ante nossos olhos como esse filme que Ir. Jacob descreve. O
item é “Revisão das experiências”, constante do capítulo XII – intitulado “Alma
e desencarnação” do mesmo livro “Evolução em dois mundos.”
De
liberação a liberação, na ocorrência da morte, a criatura começa a
familiarizarse com a esfera extrafísica. Assim como recapitula, nos
primeiros dias da existência intrauterina, no processo reencarnatório,
todos os lances de sua evolução filogenética1, a consciência examina
em retrospecto de minutos ou de longas horas, ao integrarse
definitivamente em seu corpo sutil, pela histogênese espiritual, durante o
coma ou a cadaverização do veículo físico, todos os acontecimentos da
própria vida, nos prodígios de memória, a que se referem os desencarnados
quando descrevem para os homens a grande passagem para o sepulcro. É que a
mente, no limiar da recomposição de seu próprio veículo, seja
no renascimento biológico ou na desencarnação, revisa
automaticamente e de modo rápido todas as experiências por ela própria
vividas, imprimindo magneticamente às células, que se desdobrarão em unidades
físicas e psicossomáticas2, no corpo físico e no corpo espiritual,
as diretrizes a que estarão sujeitas, dentro do novo ciclo de evolução em que
ingressam. Acresce lembrar, ainda, como nota confirmativa de nossas asserções,
que, esporadicamente, encarnados saídos ilesos de grandes perigos como
acidentes e suicídios frustrados, relatam semelhante fenômeno de revisão das
próprias experiências, também chamado visão panorâmica e síntese mental.
1
– Filogenético: referente à filogênese, que é o estudo das relações de
descendência bilógica dos organismos, e da evolução de uma espécie ou grupo
biológico, a partir de formas primitivas de origem.
2
– Psicossomático: relativo ao psicossoma, isto é, ao corpo espiritual ou
perispírito.
Voltemos à narrativa de
Irmão Jacob.
[...]
Assombrado, vi-me em duplicata.
Eu,
que tanta vez exortara os desencarnados a contemplarem os despojos de que já se
haviam desvencilhado, fixei meu corpo a enrijecer-se, num misto de espanto e
amargura [...] Encontrava-me prostrado, vencido. Não me assistia qualquer razão
de revolta; contudo, se possível, desejaria afastar-me. A contemplação do corpo
imóvel, não obstante aguçar-me o propósito de observar e aprender, era-me
aflitiva. O cadáver perturbava-me com as sugestões da morte, impunha reflexão
desagradável e amarga. À distância dele, provavelmente a ideia de vida e
eternidade prevaleceria, dentro de mim. [...] Alongando o raio de meu olhar,
verifiquei a existência de prateado fio, ligando-me o novo organismo à cabeça
imobilizada. Torturante emoção apossou-se de mim. Eu seria o cadáver ou o
cadáver seria eu? Por intermédio de que boca pretendia falar? Da que se fechara
no corpo ou da que me serviria agora? Através de que ouvidos assinalava as
palavras de Marta? Intentando ver pelos olhos mortos, senti-me atirado
novamente a espesso nevoeiro. Assustado, soergui-me mentalmente. Aquele grilhão
tênue a unir-me com os despojos era bem um fio de forças vivas, jungindo-me à
matéria densa, semelhando-se ao cordão umbilical que liga o nascituro ao seio
feminino. [...] Mais alguns instantes escoaram difíceis,
quando inopinado abalo me revolveu o ser. Supus haver sido projetado a enorme
distância... Confesso que o choque me assaltou com tão grande violência que
julguei chegado o momento de “outra morte”. Dentro em pouco, no entanto, o
coração se refez, equilibrou-se a respiração e Bezerra surgiu, sorridente, a
indagar se o desligamento ocorrera normal. Explicou-me o respeitável benfeitor
que, até ali, meu corpo espiritual fora como que um “balão cativo”, mas
doravante disporia de real liberdade interior. Pensaria com clareza,
movimentar-me-ia sem obstáculos e deteria faculdades mais precisas.
Finalizando as experiências
relatadas pelo Irmão Jacob, passemos, agora, aos relatos que André Luiz faz
durante o desencarde de Dimas.
– Noutro tempo, André, os antigos
acreditavam que entidades mitológicas cortavam os fios da vida humana. Nós
somos Parcas autênticas, efetuando semelhante operação...
– Segundo você sabe, há três
regiões orgânicas fundamentais que demandam extremo cuidado nos serviços de
liberação da alma: o centro vegetativo, ligado ao ventre, como sede das
manifestações fisiológicas; o centro emocional, zona dos sentimentos e desejos,
sediado no tórax, e o centro mental, mais importante por excelência, situado no
cérebro.
[...] Aconselhando-me cautela na
ministração de energias magnéticas à mente do moribundo, começou a operar sobre
o plexo solar, desatando laços que localizavam forças físicas. Com espanto,
notei que certa porção de substância leitosa extravasava do umbigo, pairando em
torno. Esticaram-se os membros inferiores, com sintomas de esfriamento.
Dimas gemeu, em voz alta,
semi-inconsciente.
[...] Mas, antes que os familiares entrassem em
cena, Jerônimo, com passes concentrados sobre o tórax, relaxou os elos que
mantinham a coesão celular no centro emotivo, operando sobre determinado ponto
do coração, que passou a funcionar como bomba mecânica, desreguladamente. Nova
cota de substância desprendia-se do corpo, do epigástrio à garganta, mas
reparei que todos os músculos trabalhavam fortemente contra a partida da alma,
opondo-se à libertação das forças motrizes, em esforço desesperado, ocasionando
angustiosa aflição ao paciente. O campo físico oferecia-nos resistência,
insistindo pela retenção do senhor espiritual.
[...] O Assistente estabeleceu
reduzido tempo de descanso, mas volveu a intervir no cérebro. Era a última
etapa. Concentrando todo o seu potencial de energia na fossa romboidal,
Jerônimo quebrou alguma coisa que não pude perceber com minúcias e brilhante
chama violeta-dourada desligou-se da região craniana, absorvendo,
instantaneamente, a vasta porção de substância leitosa já exteriorizada. Quis
fitar a brilhante luz, mas confesso que era difícil fixá-la, com rigor. Em
breves instantes, porém, notei que as forças em exame eram dotadas de movimento
plasticizante. A chama mencionada transformou-se em maravilhosa cabeça, em tudo
idêntica à do nosso amigo em desencarnação, constituindo-se, após ela, todo o
corpo perispiritual de Dimas, membro a membro,
traço a traço. E, à medida que o novo organismo ressurgia ao nosso
olhar, a luz violeta-dourada, fulgurante no cérebro, empalidecia gradualmente,
até desaparecer de todo, como se representasse o conjunto dos princípios
superiores da personalidade, momentaneamente recolhidos a um único ponto,
espraiando-se, em seguida, através de todos os escaninhos do organismo
perispirítico, assegurando, desse modo, a coesão dos diferentes átomos, das
novas dimensões vibratórias.
[...] Dimas-desencarnado
elevou-se alguns palmos acima de Dimas-cadáver, apenas ligado ao corpo através
de leve cordão prateado, semelhante a sutil elástico, entre o cérebro de
matéria densa, abandonado, e o cérebro de matéria rarefeita do organismo
liberto.
Para os nossos amigos encarnados,
Dimas morrera, inteiramente. Para nós outros, porém, a operação era ainda
incompleta. O Assistente deliberou que o cordão fluídico deveria permanecer até
ao dia imediato, considerando as necessidades do “morto”, ainda imperfeitamente
preparado para desenlace mais rápido.
Por enquanto, repousará ele na
contemplação do passado, que se lhe descortina em visão panorâmica no campo
interior. Além disso, acusa debilidade extrema após o laborioso esforço do
momento. Por essa razão, somente poderá partir, em nossa companhia, findo o
enterramento dos envoltórios pesados, aos quais se une ainda pelos últimos
resíduos.
Essas são as informações que
pude compilar sobre o assunto. Claro que outras há, e se aqui não estão, foi
exclusivamente por ignorância de minha parte. Espero, que a partir desse
estudo, essas lacunas sejam preenchidas por todos.
Referência Bibliográfica
KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos – Tradução Guillon
Ribeiro. 93ª ed. Rio de Janeiro, FEB, 2013. (1ª ed.1857, Paris-França; 1944,
Brasil).
XAVIER, Francisco Cândido./LUIZ,
André. Obreiros da vida eterna. 22ª ed.
Rio de Janeiro, FEB, 1996. (1ª ed. 1946).
XAVIER, Francisco Cândido,
VIEIRA Waldo./LUIZ, André. Evolução em
dois mundos. 13ª ed. Rio de Janeiro, FEB, 1993. (1ª ed. 1958).
XAVIER, Francisco
Cândido./JACOB, Irmão. Voltei. 28ª
ed. Rio de Janeiro, FEB, 2013. (1ª ed.1949).